quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Quem é o Discípulo? Quem é Jesus?



João 1.35-42
          O Evangelho de hoje (04/01/2018) nos propõe a reflexão nas duas perguntas que dá título a este texto: “Quem é o Discípulo?” e “Quem é Jesus?”.

          A primeira é respondida conforme indicou o exegeta Bruno Maggioni em seu comentário: o seguimento a Jesus consiste em três elementos: VER, PERMANECER E TESTEMUNHAR.

          Como podemos VER a Jesus hoje, em nosso tempo e lugar?

          Aqueles discípulos que o Evangelho de hoje nos mostra viram Jesus pessoalmente, em carne e osso, contudo, nós, que não temos mais o Senhor fisicamente conosco, como podemos vê-lo a fim de permanecermos com Ele e testemunharmos Dele como Seus Discípulos?

          Jesus mesmo responde a nossa pergunta quando pregou seu “Sermão Escatológico” conforme registrado em S. Mateus 25: “Pois tive fome e me destes de comer. Tive sede e me destes de beber. Era forasteiro e me acolhestes. Estive nu e me vestistes, doente e me visitastes, preso e viestes ver-me. Então os justos lhe responderão: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te alimentamos, com sede e te demos de beber? Quando foi que te vimos forasteiro e te recolhemos ou nu e te vestimos? Quando foi que te vimos doente ou preso e fomos te ver? Ao que lhes responderá o rei: “EM VERDADE VOS DIGO; CADA VEZ QUE O FIZESTES A UM DESSES MEUS IRMÃOS MAIS PEQUENINOS, A MIM O FIZESTES” (Mt 25.35-40).

          Hoje, em pleno século 21, podemos encontrar Jesus naqueles que Ele mesmo apontou: nos pequeninos, nos marginalizados, nos excluídos de nossa sociedade. Neles está Jesus e neles podemos vê-Lo, tocá-Lo, cuidá-Lo, alimentá-Lo... No mesmo Sermão Jesus afirma que quando deixamos de fazer tudo o que acima está posto, foi a ELE que deixamos de fazer, pois Ele se pode encontrar, se deixa VER nesses rejeitados que o Estado e a sociedade rejeitaram. Quem são esses marginalizados, esses pequeninos, esses nos quais está Jesus hoje? Sabemos bem! Os encontramos debaixo das marquises, nas ruas, à porta dos supermercados, nos presídios, nos rincões dos sertões do Brasil, à nossa porta, à porta das nossas igrejas, na nossa vizinhança mesmo e até dentro das nossas comunidades de fé!

          O que nós temos feitos por esses pequeninos? É reflexão URGENTE da nossa parte, se somos seguidores, alunos, discípulos de Jesus! Como tratamos, cuidamos, vamos ao encontro dos marginalizados? Se não estamos fazendo isso, não estamos sendo discípulos e seguidores do Salvador. Vejam que os atos são os sinais dos discípulos, não as palavras, a verborragia, a “pregação”, o arrazoamento. Não! Os atos! Falamos muito hoje em dia e não estou aqui a desmerecer o ato do discurso, o ato de falar sobre Jesus, o ato de proclamar Seu Evangelho, Sua Boa Nova, mas como disse Francisco de Assis: “Evangelize sempre, e, se preciso, use as palavras!”

          A sabedoria popular forjou o adágio: “As palavras convencem, os exemplos arrastam”. Muitas pessoas que já estiveram conosco, que já sentaram ao nosso lado, que já partiram o Pão e o Vinho conosco, que já cantaram em nossos corais, que já participaram ativamente das nossas comunidades de fé – até mesmo no ensino e na pregação, hoje não mais estão, pois no momento que elas mais precisaram, encontraram apenas palavras e jamais nossos atos. Palavras edificam, certamente. Atos salvam uma pessoa! A ortodoxia (o crer corretamente) que buscamos em nossas comunidades de fé é inócua se não acompanhada da ortopraxia (o fazer corretamente, de acordo com a Boa Nova de Jesus). Não podemos separar jamais a ortodoxia da ortopraxia na Igreja, posto que assim nos ensinou Jesus e podemos verificar a verdade disso lendo os Evangelhos. De nada nos adiantará termos a ortodoxia e não termos a ortopraxia! Pensemos nisso profundamente, pois o que mais ouvimos dos chamados “desigrejados” é justamente isso: o descompasso entre nossos discurso e a nossa prática!

          O segundo elemento do discipulado é o PERMANECER. Maggioni nos diz que permanecer no nosso texto indica “uma partilha de vida e de destino, uma profunda comunhão”.

          As palavras aqui não estão colocadas à toa. Partilhar a vida e o destino; profunda comunhão. A Igreja nasce do testemunho dos discípulos de Jesus. Igreja é isso ou se preferirem, como eu, “comunidade de fé”. A Igreja é o ajuntamento dos discípulos, a assembleia dos seguidores de Jesus. Já disse alguém que não existe discipulado solitário. Discipulado é partilha, é comunhão profunda, é destino junto. O poeta reafirma: “É impossível ser feliz sozinho”.

          Na Igreja – a comunidade dos discípulos de Jesus – somos plurais, a soma dos indivíduos resulta numa pluralidade diversa e rica, em coletividade. Tal coletividade não é e jamais será uniforme, posto que somos indivíduos que carregam nossas histórias de vida, biografias muitas vezes radicalmente diferentes, mas tendo por vínculo o amor em Cristo e o amor a Cristo, somos um Povo, uma comum-unidade, uma Igreja em comum-união. Partilha de vida, de destino, profunda comunhão. Uma Família como cantamos no cântico. Não há discipulado sem permanência – Nele, Cristo, que está em nós e lá à direita do Pai e na Sua Igreja, comunidade das pessoas que Nele acreditam e que Nele encontraram a razão de ser no mundo.

          Por fim, TESTEMUNHAR, o terceiro sinal do discipulado. Os chamados tornam-se testemunhas. E voltamos ao primeiro sinal! Como testemunhamos? Com palavras E com os ATOS. Com a boca que confessa a adesão, a fé, mas igualmente, com o corpo cujas mãos se abrem para testemunhar a fé e o amor.

          Com a boca confessamos: é nossa proclamação das Boas Novas, é a confissão da nossa fé, é a proclamação da Boa Notícia ao mundo, é a palavra que se faz Palavra e leva à fé em Cristo as pessoas que ainda não O encontraram. A comunidade de fé vai além das quatro paredes do local de reunião, como declarou J. Wesley, o mundo tem que ser a nossa paróquia! Testemunhamos com as palavras dentro e fora desses locais. Proclamamos dentro e fora das quatro paredes, anunciamos o que chamamos de Querigma para além do edifício.

          Contudo, palavras não bastam, conforme podemos verificar no Sermão Escatológico já apontado. É preciso testemunhar com os atos e aqui também é necessário que tal testemunho seja dentro e fora das quatro paredes do local de reunião.

          Muitas vezes fico envergonhado quando alguém me diz: “os espíritas realizam muito mais obras de misericórdia, de caridade, que vocês, ditos ‘evangélicos’!” E não é verdade?! Como refutar algo empiricamente verificável? Onde nossas casas de acolhida? Onde nossas casas para nossos idosos? Onde nossas casas para nossas crianças? Onde nossas obras de misericórdia? Digo isso com endereço certo: aos meus, à Igreja que chamamos Inclusiva!

          Podemos elencar milhões de razões para não termos os espaços citados em nossas igrejas, talvez, dirão muitos, que passamos por sérias dificuldades financeiras – e assim na verdade é, principalmente dentre nós que somos sérios e não arrancamos dinheiro com falsas promessas daquelas pessoas que conosco estão, contudo, é preciso urgentemente iniciarmos ainda que com pouco, ainda que com muito pouco, nossas obras de misericórdia. Pode ser a distribuição de alimentos, a arrecadação de leite para as crianças, o bazar de roupas usadas cujo dinheiro arrecadado vá para os mais necessitados. Pode ser pão e café para as prostitutas e prostitutos em vulnerabilidade nas ruas das nossas cidades. Pode ser, igualmente, a visita coletiva com o que arrecadamos de itens de higiene para uma casa de idosos... é pouco, mas pode ser o nosso melhor! O que não podemos é usarmos sempre a desculpa da dificuldade financeira para nada fazermos!


          Testemunhar com palavras e ações, ver Jesus nos oprimidos e permanecer partilhando nossa vida em profunda comunhão. Esta é a lição do Evangelho de hoje para nós, a Igreja do Senhor Jesus. Se tais coisas cumprirmos, seremos dignos do nome “cristãos”. Falarão de nós: “Estes que têm alvoroçado o mundo, aqui também chegaram!” Amém!

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