sábado, 6 de janeiro de 2018

A Primeira Manifestação da Trindade

São Marcos 1.7-11

E proclamava (João Batista): “Depois de mim, vem aquele que é mais forte do que eu, de quem não sou digno de, abaixando-me, desatar a correia das sandálias. Eu vos batizei com água. Ele, porém, vos batizará com o Espírito Santo”. Aconteceu, naqueles dias, que veio Jesus de Nazaré da Galiléia e foi batizado por João no rio Jordão. E, logo ao subir da água, ele viu os céus se rasgando e o Espírito, como uma pomba, descer até ele, e uma voz vinda do céu: “Tu és meu Filho amado, em ti me comprazo.” - Bíblia de Jerusalém



Marcos – o escritor do primeiro Evangelho redigido pela e para a reflexão da Igreja – tem um ritmo diferente dos demais sinóticos e, igualmente, do Quarto Evangelho. É conciso, econômico nas palavras, como aquele que tem pressa em anunciar a “Boa Notícia”. Ele iniciar seu “livro” declarando: “Princípio do Evangelho de Jesus Cristo”. O Evangelho é o Cristo de Deus revelado em Jesus de Nazaré da Galiléia. Ele encarna em Si essa Boa Nova a ser proclamada pelos discípulos na Igreja. Aqui, em Marcos, tal revelação de Jesus como Filho de Deus, o Cristo de Deus, o Messias de Deus se dá de forma progressiva e Marcos enquadra essa revelação em duas teofanias (revelação ou manifestação de Deus): no Batismo de Jesus por João, o Batista no Jordão – que é o nosso Evangelho de hoje – e a Transfiguração (Mc 9.7). Contudo, essas duas manifestações de Deus tem como “audiência” um círculo pequeno de pessoas, pois em Marcos, a derradeira teofania será a Cruz e a profissão de fé do soldado pagão: “Verdadeiramente este homem era Filho de Deus” (Mc 15.39b).

Marcos relata o episódio do Batismo sem os detalhes que encontramos em S. Mateus e S. Lucas, essa “ligeireza” de “filme de ação”, percorre todo o seu Evangelho, como quem tem pressa de anunciar o Cristo (o Ungido, o Messias) e sem muitos preâmbulos, aparece “Jesus de Nazaré da Galiléia” para ser batizado no batismo de João, que, sabemos, era um batismo de “remissão dos pecados”.

Muitas páginas já foram escritas pelos estudiosos exegetas, igualmente pelos teólogos doutrinários e apologetas sobre esse episódio do “Batismo do Senhor”. A questão principal que os movia era: “Se Jesus é Deus e Homem – e Homem sem pecado – por que se submeter ao batismo de João que era um batismo para a remissão de pecados? Muitas respostas foram dadas, mas a mais simples de todas encontramos num teólogo exegeta reformado.

William Hendriksen responde assim: “Jesus, de fato, carregava em si mesmo os
nossos muitos pecados. Não é isso que Isaías 53.6 sugere (“Todos nos andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nos todos”)? Não é também sugerido no fato de que, não muito tempo apos ter batizado Jesus, João, ao vê-lo, disse: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29)? Parece claro, portanto, que a decisão de
Jesus de ser batizado por João, significou o seu comprometimento de tomar sobre si a culpa de todos aqueles pelos quais ele haveria de morrer. Num certo sentido, ao se batizar, Jesus estava cumprindo parte da sua tarefa de dar a vida pelas suas ovelhas (cf. Mt 20.28; Mc 10.45; Jo 10.11; 2Co 5.21; lPe 3.18). Além do mais, se não fosse por essa autosubmissão voluntária, simbolizada pelo seu batismo, não seriam todos os outros batismos sem sentido? Foi pelo seu próprio sacrifício que foi estabelecida a base para o perdão de pecados, simbolizado e selado pelo batismo, para todos que, com sinceridade, reconhecem sua incapacidade e falta de méritos, e pretendem levar a jornada da vida adiante, em “novidade de vida”.

Para além disso, a tônica, o ponto alto do nosso texto é a Teofania que se realizou no Batismo de Jesus como manifestação da Trindade ou manifestação trinitariana. O Filho que sai da água, o Espírito que pousa sobre Ele como uma pomba e a voz de Deus, o Pai declarando que Jesus era Seu Filho Amado, no qual Ele se alegrava.

Aqui João viu e ouvir aquilo que o mesmo Espírito já tinha lhe revelado: Ele era o Cordeiro de Deus, Ele era mais forte do que ele, Ele era aquele quem batizava com o Espírito Santo. Ele era o Messias, o Cristo.

Mas também aqui se dá, na realidade se evoca vários elementos: O Êxodo como Isaías o interpretava, a experiência batismal da Igreja e as mais remotas experiências de investidura profética. A experiência de Jesus é comparada com a de Moisés, que liderou o povo de Deus na libertação da escravidão à liberdade através das águas do mar. Também a experiência evoca o “Servo” profetizado por Isaías que tomou sobre Si tudo o que era humano e carregou sobre Si tal fardo no objetivo de salvar os humanos do mesmo. Fidelidade e solidariedade do Filho que irá se cumprir plenamente em Sua morte, seu derradeiro batismo como Ele mesmo declarou aos “Filhos do Trovão”, aos filhos de Zebedeu, seus discípulos (Mc 10.38b).

Com o Batismo se dá o início do ministério de Cristo à favor dos seres humanos, aqui Ele inicia sua missão sob o impulso do Espírito, tal qual os profetas, contudo, de maneira plena, eficaz, permanente.

Por fim, a experiência batismal da Igreja. A Igreja desde os primórdios ministrou o batismo – sinal, sacramento – simbolizando com tal gesto a entrada no Pacto da Nova Aliança, como também, a entrada na Igreja, comunidade de Fé do Messias que O confessa e O proclama ao mundo. É testemunho de quem recebe o sacramento como testemunha da sua profissão de fé ao mundo, de sua adesão ao Jesus de Nazaré e seu projeto de Reino de Deus no aqui e no agora das nossas existências, e, como ensina S. Paulo, o batismo também simboliza nossa morte e nossa ressurreição em Cristo (“sepultados com Ele, pelo batismo…) para vivermos em novidade de vida, ou seja, em processo de uma transformação cotidiana, pela Palavra e pelo Espírito que faz tal grandiosa obra em nós, processo que só terminar com nosso encontro derradeiro quando chamados à presença de Deus Uno e Trino, então, face a face, seremos, finalmente e plenamente, a “imago Dei”, a Imagem de Deus.


Para nós resta-nos darmos testemunho do nosso Batismo todos os dias. É tarefa nada fácil e árdua num mundo que está em rota de colisão com os valores do Evangelho. Nosso testemunho se resume no fato de testemunharmos nossa morte e ressurreição em Cristo, ainda que em processo, vivendo para as boas obras, as quais, de antemão fomos nós criados para elas. Dessa maneira, continuamos o tema do discipulado que tem sido a lição dessa semana pós-Natal, pois discípulos são aqueles que são sinais, testemunhas, luz e sal da terra. Que sejamos, pois, testemunhas do nosso Batismo, produzindo boas obras, confessando o Senhorio de Cristo e vivendo em novidade de vida todos os dias! Amém!

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