terça-feira, 9 de janeiro de 2018


Quem é este Jesus de Nazaré?

Rev. Marcio Retamero

Evangelho de Jesus Cristo segundo São Marcos 1.21-28

“21 Entraram em Cafarnaum e, logo no sábado, foram à sinagoga. E ali ele ensinava. 22 Estavam espantados com o seu ensinamento, pois ele os ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas. 23 Na ocasião, estava na sinagoga deles um homem possuído de um espírito impuro, que gritava, 24 dizendo: “Que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para arruinar-nos? Sei quem tu és: o Santo de Deus. 25 Jesus, porém, o conjurou severamente: “Cala-te e sai dele”. 26 Então o espírito impuro, sacudindo-o violentamente e soltado grande grito, deixou-o. 27 Todos então se admiraram, perguntando uns aos outros: “Que é isto? Um novo ensinamento com autoridade! Até mesmo aos espíritos impuros dá ordens, e eles lhe obedecem!” 28 Imediatamente a sua fama se espalhou por todo lugar, em toda redondeza da Galiléia.” – Bíblia de Jerusalém.

          A porção do Evangelho de hoje os informa do início da atividade ministerial de Jesus na Galiléia, norte de Israel, terras de interseções de culturas, de influências pagãs na religião oficial, da presença naquela geografia do norte de Israel de pessoas “pagãs” e, naturalmente, suas influências culturais que acabam por influenciar o pensamento cultural e religioso dos habitantes daquela parte da “terra Santa”. Já sabemos, de cara, pelo evangelista, o local, a cidade que Jesus estava quando nos versículos anteriores, “caminhando junto ao Mar da Galiléia” (Mc 1.16), Jesus encontrou seus quatro primeiros seguidores/discípulos. Cafarnaum, a pequena cidade junto ao “Mar da Galiléia” ou como chama o mesmo sítio o evangelista João, “o Mar de Tiberíades”.

          Em Cafarnaum, num dia de sábado, portanto, no Dia do Senhor – muitas vezes nos esquecemos de que Jesus e seus discípulos eram judeus praticantes de sua religião – vão, naturalmente como todos os judeus, à sinagoga, local privilegiado onde a Torá e demais Escritos e Profetas da Bíblia Hebraica (nosso AT) é lido, explicado, contextualizado às necessidades daquelas pessoas e orações são realizadas à Javé, o Deus de Israel. É ali que se encontra “a cátedra de Moisés”, lugar onde a seita dos fariseus, por excelência, bem como a dos escribas, tomam lugar para ensinar a Lei e os Profetas ao povo.

          A sinagoga, esta instituição judaica que nasceu após a destruição do Templo no ano de 587 a.C., que se espalhou não apenas pela Palestina, mas, igualmente, na Diáspora, eram “as assembleias de El” de que fala o salmista Asafe (Sl 74.8), uma casa de encontro e oração e o estudo e explicação da Bíblia. A sinagoga do nosso texto, a de Cafarnaum, foi construída pela doação monetária de um pagão, como nos informa S. Lucas (7.5), o Centurião Romano, cujo servo Jesus curou, foi quem proporcionou a construção deste edifício, verdadeira instituição judaica, na cidadezinha de Cafarnaum.

          Jesus de Nazaré (pode vir algo de bom de Nazaré?) “ali ensinava”, ou seja, o Carpinteiro sabia ler, era instruído nas “coisas de Deus”, recebeu desde a infância em sua casa a educação de um judeu, ouviu desde muito cedo as explicações acerca da Lei, dos Profetas, dos Escritos e como nos diz X. Pikaza, pertencia ao “Nezer”, por isso é dito em outros textos que era “Nazoreu”: isso significa que Jesus fora criado como aquele judeu da estirpe de Davi e com tudo o que isso significava (para maiores informações, cf. “Historia de Jesus”, Pikaza, Ed. Verbo Divino, em espanhol). Contudo este judeu não ensinava como os outros instruídos na Lei e nos Profetas, ele ensinava “com autoridade”.

          O que isso significa? W. Hendriksen escreve no seu Comentário ao Evangelho de Marcos: “Considere os seguintes pontos de contrastes entre os métodos de ensino de Cristo e o dos escribas: Ele falava a verdade (Jo 14.6; 18.37). Em contraste, uma argumentação corrupta e evasiva marcava os sermões de muitos escribas (Mt 5.21ss). Ele falava acerca de assuntos de grande importância, tais como vida, morte, eternidade. Eles, frequentemente, gastavam seu tempo com trivialidades ((Mc 4.2-9, 21, 24, 26-34; 9.36; 12.1-11). O discurso deles era seco como a poeira. Havia um plano definido em sua pregação. Como o Talmude demonstra, eles frequentemente divagavam em seus arrazoados. Ele falava como o Amado dos seres humanos, como o que estava interessado no bem-estar eterno dos seus ouvintes e apontava para o Pai e seu Amor. A falta de amor deles é claramente revelada em passagens como Mc 12.40, etc. Finalmente, e isto é o mais importante, por ser especificamente declarado no texto. Ele falava “com autoridade” porque a sua mensagem vinha diretamente do coração e da mente do Pai (Jo 8.26) e, portanto, do seu próprio ser divino e das Escrituras. Eles estavam constantemente citando falíveis fontes – um escriba citava o outro. Eles estavam tentando encontrar água em cisternas rotas. Ele falava a partir do que era e sempre será: “a fonte de água viva” (Jr 2.13).”

          Não é, portanto, de admirar que eles tenham ficado maravilhado com o ensino com autoridade do Carpinteiro de Nazaré – e, não só com essa doutrina totalmente nova e bela, mas com o que segue: a operação de um exorcismo.

          Nos nossos dias é controverso a questão da possessão demoníaca, muito diferente é esta questão naquele contexto histórico de Jesus, dos seus discípulos e dos que viviam lá. Hoje não há uma questão fechada, nem alinhada a respeito da possessão demoníaca, alguns acreditam que toda e qualquer “possessão” esteja ligada a problemas psíquicos, desordenação da mente, dissociação da persona, etc. Alguns ainda hoje creem nas possessões, desde que a ciência médica dê sua palavra de autoridade que não há, ali, diagnóstico de doença mental, mas algo de outra natureza, e assim, os que trabalham nessa seara como os sacerdotes da Igreja Católica Romana – os exorcistas autorizados devidamente pelos bispos de suas dioceses – entram no campo para exorcizar o (a) possesso (a).

          Seja como for, ocorreu o fenômeno e não temos porque duvidar disso, segundo o autor do Evangelho e Jesus, então, depois de ter ensinado, expulsa o demônio, deixando livre aquele homem, livre e são. Liberto. Pois para isso veio o Filho do Homem: para destruir as obras do Acusador.

          Importante também notar algo importante na Teologia do Segundo Evangelho: o segredo messiânico. Aqui Jesus ordena ao demônio que se cale, que não diga a respeito Dele, o Santo de Israel, o Messias, não era chegada a hora. Esta será e se realizará na confissão de Pedro em Cesaréia, parte central do Evangelho: “Tu és o Cristo”, em depois, na Cruz, pela confissão do soldado romano: “Verdadeiramente este homem era o Filho de Deus”. Confissão que é a nossa, a da Igreja e a de cada um, de cada uma de nós hoje.

          Depois deste episódio inaugural da atividade ministerial de Jesus, “sua fama se espalhou por todo lugar, por toda a redondeza da Galiléia”. E, a partir daqui, teremos os ensinos e os milagres de Jesus sendo descritos no Evangelho e a revelação progressiva de Sua natureza e missão.

          A tônica de tudo isso que fica para nós é a questão urgente que deve ser respondida por cada pessoa: quem é este Jesus de Nazaré? “Um judeu Marginal?”, um taumaturgo, exorcista e profeta “do seu tempo”?, um usurpador que quer ser o Messias e fracassa neste objetivo, pois lá, no seu destino, encontra a morte de cruz?, um “espírito evoluído, na verdade, o maior espírito evoluído” da humanidade?, um camponês revolucionário?, uma “figura inventada por mentes em devaneio” que ainda hoje persiste nos seus seguidores?, ou o Filho de Deus, o Santo de Israel, o Emanuel, o Prometido, o Rei do Universo e Senhor da Igreja?


          Fica em aberto para você que me lê! Todavia, não fique indiferente e alienado (a) diante da pergunta! Prove Jesus! Experimente ter com Ele um relacionamento pessoal. Se abra à ação da revelação, da epifania do Amado. Oro para que isso ocorra em você! Amém. 

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