Quem
é este Jesus de Nazaré?
Rev. Marcio Retamero
Evangelho
de Jesus Cristo segundo São Marcos 1.21-28
“21 Entraram em
Cafarnaum e, logo no sábado, foram à sinagoga. E ali ele ensinava. 22 Estavam
espantados com o seu ensinamento, pois ele os ensinava como quem tem autoridade
e não como os escribas. 23 Na ocasião, estava na sinagoga deles um homem
possuído de um espírito impuro, que gritava, 24 dizendo: “Que queres de nós,
Jesus Nazareno? Vieste para arruinar-nos? Sei quem tu és: o Santo de Deus. 25
Jesus, porém, o conjurou severamente: “Cala-te e sai dele”. 26 Então o espírito
impuro, sacudindo-o violentamente e soltado grande grito, deixou-o. 27 Todos
então se admiraram, perguntando uns aos outros: “Que é isto? Um novo
ensinamento com autoridade! Até mesmo aos espíritos impuros dá ordens, e eles
lhe obedecem!” 28 Imediatamente a sua fama se espalhou por todo lugar, em toda
redondeza da Galiléia.” – Bíblia de Jerusalém.
A porção do Evangelho de hoje os
informa do início da atividade ministerial de Jesus na Galiléia, norte de
Israel, terras de interseções de culturas, de influências pagãs na religião
oficial, da presença naquela geografia do norte de Israel de pessoas “pagãs” e,
naturalmente, suas influências culturais que acabam por influenciar o
pensamento cultural e religioso dos habitantes daquela parte da “terra Santa”.
Já sabemos, de cara, pelo evangelista, o local, a cidade que Jesus estava
quando nos versículos anteriores, “caminhando junto ao Mar da Galiléia” (Mc
1.16), Jesus encontrou seus quatro primeiros seguidores/discípulos. Cafarnaum,
a pequena cidade junto ao “Mar da Galiléia” ou como chama o mesmo sítio o
evangelista João, “o Mar de Tiberíades”.
Em Cafarnaum, num dia de sábado,
portanto, no Dia do Senhor – muitas vezes nos esquecemos de que Jesus e seus
discípulos eram judeus praticantes de sua religião – vão, naturalmente como
todos os judeus, à sinagoga, local privilegiado onde a Torá e demais Escritos e
Profetas da Bíblia Hebraica (nosso AT) é lido, explicado, contextualizado às
necessidades daquelas pessoas e orações são realizadas à Javé, o Deus de
Israel. É ali que se encontra “a cátedra de Moisés”, lugar onde a seita dos
fariseus, por excelência, bem como a dos escribas, tomam lugar para ensinar a
Lei e os Profetas ao povo.
A sinagoga, esta instituição judaica
que nasceu após a destruição do Templo no ano de 587 a.C., que se espalhou não
apenas pela Palestina, mas, igualmente, na Diáspora, eram “as assembleias de El”
de que fala o salmista Asafe (Sl 74.8), uma casa de encontro e oração e o
estudo e explicação da Bíblia. A sinagoga do nosso texto, a de Cafarnaum, foi
construída pela doação monetária de um pagão, como nos informa S. Lucas (7.5),
o Centurião Romano, cujo servo Jesus curou, foi quem proporcionou a construção
deste edifício, verdadeira instituição judaica, na cidadezinha de Cafarnaum.
Jesus de Nazaré (pode vir algo de bom
de Nazaré?) “ali ensinava”, ou seja, o Carpinteiro sabia ler, era instruído nas
“coisas de Deus”, recebeu desde a infância em sua casa a educação de um judeu,
ouviu desde muito cedo as explicações acerca da Lei, dos Profetas, dos Escritos
e como nos diz X. Pikaza, pertencia ao “Nezer”, por isso é dito em outros
textos que era “Nazoreu”: isso significa que Jesus fora criado como aquele
judeu da estirpe de Davi e com tudo o que isso significava (para maiores
informações, cf. “Historia de Jesus”, Pikaza, Ed. Verbo Divino, em espanhol).
Contudo este judeu não ensinava como os outros instruídos na Lei e nos
Profetas, ele ensinava “com autoridade”.
O que isso significa? W. Hendriksen
escreve no seu Comentário ao Evangelho de Marcos: “Considere os seguintes pontos de contrastes entre os métodos de ensino
de Cristo e o dos escribas: Ele falava a verdade (Jo 14.6; 18.37). Em
contraste, uma argumentação corrupta e evasiva marcava os sermões de muitos
escribas (Mt 5.21ss). Ele falava acerca de assuntos de grande importância, tais
como vida, morte, eternidade. Eles, frequentemente, gastavam seu tempo com
trivialidades ((Mc 4.2-9, 21, 24, 26-34; 9.36; 12.1-11). O discurso deles era
seco como a poeira. Havia um plano definido em sua pregação. Como o Talmude
demonstra, eles frequentemente divagavam em seus arrazoados. Ele falava como o
Amado dos seres humanos, como o que estava interessado no bem-estar eterno dos
seus ouvintes e apontava para o Pai e seu Amor. A falta de amor deles é
claramente revelada em passagens como Mc 12.40, etc. Finalmente, e isto é o
mais importante, por ser especificamente declarado no texto. Ele falava “com
autoridade” porque a sua mensagem vinha diretamente do coração e da mente do
Pai (Jo 8.26) e, portanto, do seu próprio ser divino e das Escrituras. Eles
estavam constantemente citando falíveis fontes – um escriba citava o outro.
Eles estavam tentando encontrar água em cisternas rotas. Ele falava a partir do
que era e sempre será: “a fonte de água viva” (Jr 2.13).”
Não é, portanto, de admirar que eles
tenham ficado maravilhado com o ensino com autoridade do Carpinteiro de Nazaré –
e, não só com essa doutrina totalmente nova e bela, mas com o que segue: a
operação de um exorcismo.
Nos nossos dias é controverso a
questão da possessão demoníaca, muito diferente é esta questão naquele contexto
histórico de Jesus, dos seus discípulos e dos que viviam lá. Hoje não há uma
questão fechada, nem alinhada a respeito da possessão demoníaca, alguns
acreditam que toda e qualquer “possessão” esteja ligada a problemas psíquicos,
desordenação da mente, dissociação da persona, etc. Alguns ainda hoje creem nas
possessões, desde que a ciência médica dê sua palavra de autoridade que não há,
ali, diagnóstico de doença mental, mas algo de outra natureza, e assim, os que
trabalham nessa seara como os sacerdotes da Igreja Católica Romana – os exorcistas
autorizados devidamente pelos bispos de suas dioceses – entram no campo para
exorcizar o (a) possesso (a).
Seja como for, ocorreu o fenômeno e
não temos porque duvidar disso, segundo o autor do Evangelho e Jesus, então,
depois de ter ensinado, expulsa o demônio, deixando livre aquele homem, livre e
são. Liberto. Pois para isso veio o Filho do Homem: para destruir as obras do
Acusador.
Importante também notar algo
importante na Teologia do Segundo Evangelho: o segredo messiânico. Aqui Jesus
ordena ao demônio que se cale, que não diga a respeito Dele, o Santo de Israel,
o Messias, não era chegada a hora. Esta será e se realizará na confissão de
Pedro em Cesaréia, parte central do Evangelho: “Tu és o Cristo”, em depois, na
Cruz, pela confissão do soldado romano: “Verdadeiramente este homem era o Filho
de Deus”. Confissão que é a nossa, a da Igreja e a de cada um, de cada uma de
nós hoje.
Depois deste episódio inaugural da
atividade ministerial de Jesus, “sua fama se espalhou por todo lugar, por toda
a redondeza da Galiléia”. E, a partir daqui, teremos os ensinos e os milagres
de Jesus sendo descritos no Evangelho e a revelação progressiva de Sua natureza
e missão.
A tônica de tudo isso que fica para
nós é a questão urgente que deve ser respondida por cada pessoa: quem é este
Jesus de Nazaré? “Um judeu Marginal?”, um taumaturgo, exorcista e profeta “do
seu tempo”?, um usurpador que quer ser o Messias e fracassa neste objetivo,
pois lá, no seu destino, encontra a morte de cruz?, um “espírito evoluído, na
verdade, o maior espírito evoluído” da humanidade?, um camponês
revolucionário?, uma “figura inventada por mentes em devaneio” que ainda hoje
persiste nos seus seguidores?, ou o Filho de Deus, o Santo de Israel, o
Emanuel, o Prometido, o Rei do Universo e Senhor da Igreja?
Fica em aberto para você que me lê!
Todavia, não fique indiferente e alienado (a) diante da pergunta! Prove Jesus!
Experimente ter com Ele um relacionamento pessoal. Se abra à ação da revelação,
da epifania do Amado. Oro para que isso ocorra em você! Amém.
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